sábado, 1 de setembro de 2007

A arte e o educando

A arte é muito mais do que se pensa que ela seja A arte transcende, atravessa os tempos e se torna algo tão valioso e fantástico para que se possa perceber quanto tempo levou para se formar e adquirir este contexto. A arte está presente na vida do aluno desde o nascimento, com a música, com a cultura do meio carregada de informações sobre o mundo em que se vive.

A cultura visual propõe que as atividades ligadas à Arte possa ir além de pinturas e escultura, incorporando publicidade, objetos de uso cotidiano, o moda, arquitetura, video-clipes e tantas representações visuais quantas o aluno é capaz de produzir. Trata-se de levar o cotidiano para a sala de aula, explorando a experiência dos alunos e a realidade.

Essa “alfabetização” visual dará ao aluno condições de conhecer melhor a sociedade em que vive, interpretar a cultura de sua época e tomar contato com a de outros povos. Mais ele vai descobrir as próprias concepções e emoções ao apreciar uma imagem.

O ponto de partida para quem quer trabalhar com arte é ficar atento no mundo à sua volta, os artístas representam sua época e sua cultura. O aluno também pode ser representante de sua época e cultura.

A educação artística é imprescindível à formação global do ser humano, tendo em vista uma dimensão plena de suas potencialidades e a perspectiva de uma vida mais rica e feliz. Perceber o belo nas suas múltiplas, diversificadas e paradoxais manifestações constitui um desafio dos mais gratificantes na existência humana.

O belo na natureza e o belo na arte se confrontam e se interpretam na sinfonia da vida conduzindo a razão a um questionamento, transcendente e interminável, que se prolonga através da história, suscitando transformações na arte, na filosofia, na ciência e na tecnologia.

A criança e o jovem devem ser conduzidos desde cedo à apreciação da beleza como realidade, na natureza e na arte, para que possam compreender a sua importância e o seu significado na vida e na história. A arte é uma manifestação humana criada com a essência e inspiração do seu momento, ultrapassando a história e as sociedades. Isto se deve ao fato de que se pode identificá-la e nomeá-la.

As manifestações artísticas são exemplos vivos da diversidade cultural dos povos e expressam a riqueza criadora dos artistas de todos os tempos e lugares. Em contato com essas produções o aluno do ensino fundamental pode exercitar suas capacidades cognitivas, sensitivas, afetivas e imaginativas, organizadas em torno da aprendizagem artística e estética.

“A passagem do novo para o velho é, a partir daí, instantânea. É esse destino insuportável que as vanguardas conjuraram, fazendo-se históricas, considerando o movimento indefinido do novo como uma superação critica. Para conservar um sentido, para distinguir-se da decadência, a renovação deve identificar-se com uma trajetória que leva à essência da arte, ou seja, a uma redução e uma purificação.” (Compagnon, 1996:38).

Isto significa desenvolver a sensibilidade, a percepção e o entendimento das coisas, relacionando-as, questionando-as, buscando a sua razão de ser e principalmente, vivendo a beleza como uma dádiva da natureza e como criação humana, capaz de tornar a vida melhor e proporcionar ao homem um desenvolvimento espiritual constante na descoberta e intuição da riqueza infinita dos mistérios da vida que se revelam nas formas do belo natural e do belo artístico.

Contudo a arte, por ela mesma já diz tudo. Não é necessário estudar profundamente para entender o que uma obra quer dizer, basta apenas ver com os olhos do coração, desprovidos de qualquer nacionalidade e deixar-se envolver pela emoção.

O Poder da Arte

Já faz muito tempo que as situações vividas nas escolas, os caminhos que vêm tomando o ensino, e o futuro das crianças e adolescentes deste país, convidam-nos a repensar e registrar no papel o que eles entenderam como a função ou o lugar da Arte na escola.

Achamos oportuno pensar no assunto, já que muitas escolas estão colocando em xeque a necessidade da inclusão deste conteúdo no currículo.

Voltando atrás no tempo desde que o homem vive neste mundo, mais argumentos encontramos para confirmar a importância da arte em nossas vidas.

Arte é o nosso refúgio, é o que nos faz indivíduos, insubstituíveis e únicos. Cada um de nós tem uma maneira pessoal e distinta de se expressar, com traços, cores, gestos ou palavras. Temos necessidade de que os outros nos vejam assim, na nossa maneira peculiar de ver as coisas e que, acima de tudo, reconheçam a autenticidade e a força de nossa expressão. Ninguém quer se sentir apagado ou privado da liberdade de mostrar seu potencial, em mínimos e, aparentemente, insignificantes momentos.

Mas, hoje, uma “vanguarda” suspeita, detentora de valores no mínimo duvidosos, tem se estabelecido em nosso meio, mais objetivamente em nossas escolas, com coragem bastante para contradizer a todos: gregos, romanos, modernistas, ... todos.

Essa “vangarda” são aqueles que decidem que a Arte não é necessária no currículo, que se pode aproveitar melhor o tempo do aluno, dando mais aulas de Ciências e Matemática. Há casos, também em que o professor de Arte, profissional capacitado, é remanejado para outras disciplinas, consideradas prioritárias. Em alguns casos, nossos colegas são substituídos pelo professor de Educação Física, que se aventura sob o mando da direção, a ensinar Arte.

Em outros casos, entende-se que artista é o fazedor oficial de murais, encarregado também das bandeirolas e enfeites de festas juninas, enfim, das coisas que precisam ficar bonitinhas.

A Arte, na escola de hoje, tem de vir muito além destas oficininhas excludentes e equivocadas. Tem um papel muito importante, principalmente por que sabemos que, cada vez mais, os nossos jovens têm menos perspectivas de futuro.

A Arte tem o poder de mostrar ao aluno que ele sabe coisas que mais ninguém sabe, que ele é importante e que têm uma maneira só dele de construir e viver sua vida, que as pessoas querem ver o que ele tem a dizer e mostrar que sua realização pessoal pode estar no seu potencial criativo.

A Arte/Educação não pretende resolver problemas políticos ou sociais, e sim, formar pessoas conscientes, com olhar crítico sobre o mundo, com caráter e valores firmes e claros. Pode tornar o aluno sensível à cultura e ao próximo, capaz de perceber seu lugar e importância no meio em que vive e apreciar valores diferentes da posse de bens materiais, do sucesso profissional e das ilusões vendidas pela mídia.

Tudo está impregnado de arte, tudo fala aos nossos sentidos, dando-nos prazer e fazendo-nos sentir coisas indefinidas pois é preciso aprender a ver. Estamos consumindo arte nas suas inúmeras fontes, saboreando o prazer de várias experiências artísticas, sem nos dar conta disso.

O problema não está em saber o que é objeto artístico e sim, aprender a ver as coisas e a vida de um modo mais vivo.

À longo prazo, a Arte proporciona importantes mudanças de atitudes e olhares sobre tudo, além do aumento da capacidade de concentração e habilidade motora e de raciocínio.

“Uma escola consciente de sua missão não cria obstáculos para o futuro de seus alunos, ao contrário, habilita-os a desenvolver seu potencial estético e sua sensibilidade artística, indispensáveis num mundo em que dominar saberes básicos já não é suficiente”. (Sérgio Roberto Vaz é mestre em Museografia e Técnicas Expositivas pela Universidade Complutense de Madrid e Prof. de Artes da Escola da Serra – Belo Horizonte – MG.)

Seja fazendo teatro, desenhando, pintando, cantando, dançando, tocando ou construindo, o aluno percebe que tudo isso lhe traz segurança, equilíbrio, uma visão nova de mundo e sente um grande orgulho quando devidamente valorizado por sua capacidade e criatividade. Na verdade, este é o objetivo primeiro da Arte na escola: que o aluno exercite a sensibilidade artística, não para ser uma grande artista, mas para aprender a usar a imaginação.

Não se trata de um trabalho fácil para o educador. Exige uma formação sólida e total clareza de sua função, o que torna pouco inteligente sua substituição por um profissional de outra área de conhecimento. O domínio das técnicas, o respeito ao fazer do outro, os cuidados com o espaço que ocupamos e com o espaço do outro constituem o contraponto necessário ao uso da liberdade que se abre aos alunos para criar, inventar, virar, revirar e expor suas idéias.

Preservar essa liberdade é garantir a permanência do ato criativo entre eles.

Tipos de arte que podem ser trabalhados no ensino fundamental

O Ensino Fundamental configura-se como um momento escolar especial na vida dos alunos, porque é nesse momento de seu desenvolvimento que eles tendem a se aproximar mais das questões do universo do adulto e tentam compreende-las dentro de suas possibilidades. Ficam curiosos sobre temas como a dinâmica das relações sociais, as relações de trabalho, como e por quem as coisas são produzidas

Os conteúdos de Arte estão descritos separadamente para garantir presença e profundidade das formas artísticas nos projetos educacionais.

A critério das escolas e respectivos professores, é preciso variar as formas artísticas propostas ao longo da escolaridade, quando serão trabalhadas Artes Visuais, Dança, Música ou Teatr

2.1 - ARTES VISUAIS

As formas das artes visuais são: pintura, escultura, desenho, gravuras, arquitetura, artefato, desenho industrial.

Com o avanço da tecnologia e as transformações atingimos: fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação.

Essas visualidades são utilizadas particularmente, com várias possibilidades de combinações entre imagens, por meio das quais o aluno se expressa, se comunica entre si de diversas maneiras. Cria um universo de exposição, assimila, conhece e atualiza seus trabalhos conforme a necessidade de seus projetos e a sua capacidade de realização, passa a perceber e distinguir sentimentos, sensações.

Por isso, o estudo de artes deve fazer parte dos projetos educacionais, pois favorece a compreensão do aluno e desenvolve suas sensibilidades e afetividades.

Também é necessário considerar as técnicas, procedimentos, informações históricas, as relações culturais e sociais, tudo o que envolve as experiências que darão suportes às representações (conceitos ou teorias) sobre a arte.

A escola deve colaborar para que os alunos passem por essas experiências de aprender, criar, fazer relação entre os elementos como: ponto, linha, plano, cor, luz, movimentos e rítmo, relacionado os materiais às técnicas e às formas visuais dos diversos momentos da história, inclusive os contemporâneos.

As representações transformam-se conforme o desenvolvimento e a dimensão da aprendizagem.

Prática dos alunos nas artes visuais:

- expressão e comunicação (vídeo, fotografia, histórias em quadrinhos etc).

- criação e construção de formas plásticas em diversos espaços.

- observação e análise nos trabalhos dos colegas.

- materiais e técnicas (pincéis, lápis, giz de cera, papéis, tintas, argila).

- outros meios à (máquina fotográfica, vídeos, aparelho de computação).

- objeto de apreciação (identificação dos significados expressivos e comunicativos.

- reconhecimento e experimentação de leitura, apresentações nas diferentes culturas e em diversos meios de comunicação da imagem.

- reconhecer e valorizar os sistemas para documentação, preservar e divulgar os bens culturais.

- utilizar as fontes de informações (museu, galerias, oficinas).

“Não tem havido até aqui nenhuma arte. Arte é apenas ato de começas.” (Brancusi, 1927)

Artes visuais são meios de atração dos quais os alunos observam, analisam, criam, expressam e se comunicam com a natureza, com diferentes tipos de imagens, compreende o próprio corpo, os sentimentos afetivos e espirituais, estabelece uma integração harmônica entre o saber e o agir, entre o sentir e o pensar, distingue idéias e qualidades, usa da imaginação para construir o seu mundo.

Através das artes visuais os alunos desenvolvem sua percepção, suas emoções e sua conscientização social.

2.2 - DANÇA

A arte da dança faz parte das culturas humanas e sempre integrou o trabalho, as religiões e as atividades de lazer.

A estrutura e o funcionamento do corpo e os elementos que compõem o seu movimento pretendem demonstrar segurança ao movimentar-se, empenham-se na pesquisa do uso do corpo no espaço, nas variantes de peso e velocidade e se articulam com esses conhecimentos. A dança não é linguagem: ela não comunica significados, mas exprime sentidos.

Interessar-se pela dança como atividade coletiva e empenham-se na criação em grupo de forma solidária, é ser capaz de improvisar e criar seqüência de movimentos em grupo, interagir com os colegas, respeitando as qualidades individuais de movimento, cooperando com aqueles que têm dificuldade, aceitando as diferenças, valorizando o trabalho em grupo e empenhando-se na obtenção de resultados de movimentação harmônica, dentro dos parâmetros estabelecidos pelo professor.

Compreendendo e apreciando as diversas danças como manifestações culturais, o aluno será capaz de observar e avaliar as diversas danças presentes tanto na sua região como em outras culturas, em diferentes épocas.

“A cabeça é uma parte importante do corpo humano, mas só se está em relação orgânica como coração, com o sentimento. Sem esta relação, a cabeça é a fonte de todos os perigos e de todas as corrupções, em todos os terrenos e, portanto, também no da arte.” (Kandinsky)

Sendo assim, são vários os profissionais da dança.

A dança é sempre a criação de uma forma dinâmica (o corpo descreve formas no espaço), as formas de desenvolvem no tempo. Professores de dança permitem ao aluno uma maior sensibilidade para com o mundo em volta de cada um.

2.3 - MÚSICA

Música vem do grego “mousiké” e significa a arte de combinar sons de maneira agradável ao ouvido. A música está presente na vida do homem desde seu aparecimento sobre a face da terra. Sempre esteve associada às tradições e às culturas de cada época.

O ensino da música na formação básica recupera lentamente seu espaço graças à articulação de pedagogos e do desenvolvimento de projetos interdisciplinares.

A LDB 9.394/96, os PCNS e Referenciais Curriculares posteriores a ela instituíram o Ensino das artes e desenvolveram a música (e também o teatro, a dança e as artes visuais) e lhe conferiram o estatus de disciplina.

Nos últimos anos os educadores vêm se rearticulando para mostrar à sociedade a importância da música na formação dos alunos, desde a educação infantil, pois ajuda no desenvolvimento do aprendizado cognitivo, na capacidade lógica, na motricidade, no desenvolvimento estético e na socialização, além de ser um elo entre as diversas manifestações da cultura nacional.

“Cantar em conjunto, achar os intervalos musicais que falem como linguagem, afinar fozes significa entrar em acordo profundo e não visível sobre a intimidade da matéria, produzindo ritualmente, contra todo o ruído do mundo, um som constante (um único som musical afinado) diminui o grau de incerteza do universo, porque insemina nele um princípio de ordem.” (Wisnik, 1989:24)

As canções brasileiras constituem possibilidades para o ensino da música com música e podem fazer parte das produções musicais em sala de aula, permitindo que, o aluno possa elaborar hipóteses a respeito do grau de precisão necessária para a afinação, ritmo, percepção de elementos da linguagem.

O professor deve trazer a música para a sala de aula, oferecendo aos alunos acesso às obras que possam ser significativas para o desenvolvimento pessoal em atividades de apreciação e produção.

2.4 - TEATRO

Desde o tempo de Platão, a arte é considerada como base de toda a educação.

O teatro, como arte foi formalizado pelos gregos, passando das idéias religiosas para o espaço cênico, exigindo a presença do homem de forma complete: seu corpo, seu gesto, sua fala, revelando sua expressão e comunicação.

Cada indivíduo possui seu potencial, compreende e representa uma realidade, organiza seus conhecimentos de mundo e procura se integrar no meio ambiente, assume diversas funções sem perder seu modo de ser, passa gradualmente do jogo espontâneo para o jogo de regras, do individual para o coletivo.

A criança também possui seu potencial e capacidade, juntamente com a prática espontânea vivenciada nos jogos de faz-de-conta.

Dramatizar é uma atividade coletiva em que a expressão individual é acolhida.

O teatro dá oportunidade ao indivíduo de se desenvolver dentro de um determinado grupo social, aprendendo a ouvir, a receber e a ordenar opiniões.

A base de teatro é a experiência de vida.

Os seus conteúdos são a ordem da ação de cada pessoa ou um grupo e a organização das idéias e sentimentos.

No processo de formação da criação o teatro dá oportunidade para que a pessoa se aproprie, crítica e construtivamente, dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade.

No plano individual a criança desenvolve suas capacidades expressivas e artísticas.

No coletivo oferece o exercício das relações de cooperação, diálogo, respeito mútuo, aceitações das diferenças, e como resultado adquire autonomia e age sem constrangimento.

No ensino fundamental o aluno desenvolve um maior domínio do corpo, tornando o expressivo. Interprete melhor as palavras, responde com maior facilidade às situações, organiza e domina melhor o tempo.

Cabe ao professor incentivar e colaborar para que a criança se torne consciente das suas ações ao falar, ouvir, ver e observar na prática da liberdade e solidariedade, acompanhando o desenvolvimento da linguagem dramática da criança que gradualmente passa a compreender a atividade teatral como um todo.

“A arte do espetáculo é entre todas as artes e, talvez, entre todos os domínios da atividade humana, aquela onde o signo se manifesta com maior riqueza, variedade e densidade.” (Guinsburg, 1978)

Organizar as aulas numa seqüência, oferecer estímulos por meios de jogos preparatórios, com o intuito de desenvolver habilidades necessárias para o teatro, apresentar textos dramáticos e fatos para que o aluno adquira uma visão histórica e fazer referência nas suas ações, e apresentando condição de criar situações e palavras é o papel do professor e cabe à escola oferecer espaço para a realização dessas atividades, material básico, embora os alunos geralmente se empenhem em pesquisar e coletar materiais adequados para as encenações.

Como surgiu o ensino da arte nas escolas

As práticas educativas surgem de mobilizações sociais, pedagógicas, filosóficas, e, no caso de arte, também artísticas e estéticas. Quando caracterizadas em seus diferentes momentos históricos, ajudam a compreender melhor a questão do processo educacional e sua relação com a própria vida.

No Brasil, por exemplo, foram importantes os movimentos culturais na correlação entre arte e educação desde o século XIX. Eventos culturais e artísticos, como a criação da Escola de Belas Artes no Rio de Janeiro e a presença da Missão Francesa e de artistas europeus de renome, definiram nesse século a formação de profissionais de arte ao nível institucional. No século XX, a Semana de 22, a criação de universidades (anos 30), o surgimento das Bienais de São Paulo a partir de 1951, os movimentos universitários ligados à cultura popular (anos 50/60), da contracultura (anos 70), a constituição da pós-graduação em ensino de arte a mobilização profissional (anos 80), entre outros, vêm acompanhando o ensino artístico desde sua introdução até sua expansão por meio da educação formal e de outras experiências (em museus), centros culturais, escolas de arte, conservatórios, etc.).

Isto faz ver que as correlações dos movimentos culturais com a arte e com a educação em arte não acometem no vazio, nem desenraizadas das práticas sociais vividas pela sociedade como um todo. As mudanças que ocorrem são caracterizadas pela dinâmica social que interfere, modificando ou conservando as práticas vigentes.

A preocupação com a educação em arte tem mobilizado pesquisadores, professores, artistas, os quais vêm procurando fundamentar e intervir nessas práticas educativas. No Brasil, desde o final dos anos 80 têm-se divulgado inúmeros trabalhos desta ordem, tanto aqueles elaborados aqui quanto os de outros países.

A História considerada, portanto, é aquela que está sendo desenvolvida por professores e alunos em suas práticas e teorias pedagógicas. E, observando a história do ensino artístico, percebe-se o quanto as ações também estão demarcadas pelas concepções de cada época.

Com a criação da Academia Imperial de Belas Artes no Rio de Janeiro, em 1816, tivemos entre nós a instalação oficial do ensino artístico, seguindo os modelos similares europeus; nessa época, a maior parte das academias de arte da Europa procurava atender à demanda de preparação e habilidades técnicas e gráficas, consideradas fundamentais à expansão industrial. Aqui, como na Europa, o desenho era considerado a base de todas as artes tornando-se matéria obrigatória nos anos iniciais de estudo da Academia Imperial. No ensino primário o desenho tinha por objetivo desenvolver também essas habilidades técnicas e o domínio da racionalidade. Nas famílias mais abastas as meninas permaneciam em suas casas, onde eram preparadas com aulas de música e bordado, entre outras.

Nas primeiras décadas do século XX o ensino de arte, no caso, desenho, continuou a apresentar-se com este sentido utilitário de preparação técnica para o trabalho. Na prática, o ensino de desenho nas escolas primárias e secundárias fazia analogias com o trabalho, valorizando o traço, o contorno e a repetição de modelos que vinham geralmente de fora do país; o desenho de ornatos, a cópia e o desenho geométrico visavam à preparação do estudante para a vida profissional e para as atividades que se desenvolviam tanto em fábricas quanto em serviços artesanais.

Os programas de desenho do natural, desenho decorativo e desenho geométrico eram centrados nas representações convencionais de imagens; os conteúdos eram bem discriminados, abrangendo noções de proporção, perspectiva, construções geométricas; composição, esquemas de luz e sombra. Nas Escolas Normais os cursos de desenho incluíam ainda o “desenho pedagógico”, onde os alunos aprendiam esquemas de construções gráficas para “ilustrar aulas”.

Do ponto de vista metodológico, os professores, seguindo essa “pedagogia tradicional “ (que permanece até hoje), encaminhavam os conteúdos através de atividades que seriam fixadas pela repetição e tinham por finalidade exercitar a vista, a mão, a inteligência, a memorização, o gosto e o sendo moral. O ensino tradicional está interessado principalmente no produto do trabalho escolar e a relação professor e aluno mostra-se bem mais autoritária. Além disso, os conteúdos são considerados verdades absolutas.

A partir dos anos 50, além do Desenho, passaram a fazer parte do currículo escolar as matérias Música, Canto Orfênico e trabalhos Manuais, que mantinham de alguma forma o caráter e a metodologia do ensino artístico anterior. Ainda nesse momento, o ensino e a aprendizagem de arte concentram-se apenas na transmissão de conteúdo reprodutivista, desvinculando-se da realidade social e das diferenças individuais. O conhecimento continua centrado no professor que procura desenvolver em seus alunos também habilidades” manuais e hábitos de precisão, organização e limpeza.

A Pedagogia Nova, também conhecida por Movimento da Escola Nova, tem suas origens na Europa e Estados Unidos (século XIX), sendo que no Brasil vai surgir a partir de 1930 e ser disseminada a partir dos ano 50/60 com as escolas experimentais. Sua ênfase é a expressão, como um dado subjetivo e individual em todas as atividades que passam dos aspectos intelectuais para os afetivos. A preocupação com o método, com o aluno, seus interesses, sua espontaneidade e o processo do trabalho caracterizam uma pedagogia essencialmente experimental, fundamentada na Psicologia e na Biologia.

Diferentes autores vêm marcando os trabalhos dos professores de Arte, no século XX, no Brasil, firmando a tendência da Pedagogia Nova. Entre eles destacam-se John Dewey e Viktor Kowenfeld, dos Estados Unidos, e Herbert Read, da Inglaterra.

A Pedagogia Tecnicista, presente ainda hoje, teve suas origens a partir da segunda metade do século XX, no mundo, e a partir de 1970, no Brasil . Nessa Pedagogia, o aluno e o professor ocupam uma posição secundária, porque o elemento principal é o sistema técnico de organização da aula e do curso. Orientados por uma concepção mais mecanicista, os professores brasileiros entendiam seus planejamentos e planos de aulas centrados apenas nos objetivos que eram operacionalizados de forma minuciosa. Faz parte ainda desse contexto tecnicista o uso abundante de recursos tecnológicos e audiovisuais, sugerindo uma modernização do ensino. Nas aulas de Arte, os professores enfatizam um saber construir reduzido aos seus aspectos técnicos e ao uso de materiais diversificados (sucatas, por exemplo), e um saber exprimir-se, na maioria dos casos caracterizando poucos compromissos com o conhecimento da linguagens artísticas. Devido à ausência de bases teóricas mais fundamentadas, muitos valorizam propostas e atividades dos livros didáticos que, nos anos 70/80, estão em pleno auge, apenas de sua discutível qualidade enquanto recurso para o aprimoramento dos conceitos de arte.

Ao lado das tendências pedagógicas tradicionais, escolanovista e tecnicista, surge no Brasil, entre 1961/1964, um importante trabalho desenvolvido por Paulo Freire, que repercutiu politicamente, pelo seu método revolucionário de alfabetização de adultos. Voltado para o diálogo educador-educando e visando a consciência crítica, influencia principalmente movimentos populares e a educação não formal. Retomado a partir de 1971, é considerado nos dias de hoje como uma Pedagogia Libertadora, em uma perspectiva de consciência crítica da sociedade. A partir dos anos 80, acreditando em, um papel específico que a escola tem com relação a mudanças nas ações sociais e culturais, educadores brasileiros mergulham em um esforço de conceber e discutir práticas e teorias de educação escolar para essa realidade. Conscientizam-se de como a escola se configura no presente, com vistas a transforma-la rumo ao futuro. E nos convidam a discutir as ações e as idéias que queremos modificar na educação em arte, como um desafio compromisso com as transformações na sociedade.